segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O padre e o macaco

Sabará é uma pequena cidade há uns vinte cinco quilômetros da capital mineira. É um lugar muito tranquilo, daqueles em que as pessoas ainda se sentam para contar casos. Não sei se pelo fato de ser uma cidade do século XVIII, sempre há alguém que relata algo ocorrido por testemunho de seus antepassados.
Passando de geração a geração chegou até nossos ouvidos um caso muito engraçado que resolvi deixar registrado por ter lembrado-me dele hoje ao ver uma foto da igreja de Nossa Senhora do Carmo de Sabará. Não sou sabarense de nascimento, mas sou de coração.
Lá pelos anos mil oitocentos e alguma coisa, na época em que havia no lugar (que ainda se chamava Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabarabussu) um verdadeiro formigueiro de gente a procura de ouro. 
Em meio a tanta abundância era mais do que conveniente que se comemorassem o Natal. Sendo a maioria dos ricos, descendentes diretos  dos portugueses ou vindos do reino, havia entre eles o costume de se reunirem para celebrar na igreja o nascimento do Cristo, sendo o ponto auge a missa do galo.
Na noite de Natal, saiu o padre da casa paroquial para abrir a igreja do Carmo e celebrar a missa. Por descuido deixou uma janela ou uma porta, ninguém sabe ao certo o que foi, aberta. Naquele tempo, não havia perigo de ladrões, principalmente em se tratando da casa do padre. Mas ele fazia sempre questão de deixar tudo muito bem fechado porque não morava sozinho. Tinha um macaco de estimação.
O tal macaco era muito serelepe, imitava o padre em tudo e por isso tinha que ficar preso em casa na hora das celebrações. 
Com o movimento cada vez maior no interior da igreja, o padre nem se deu conta do que fez. Vestiu a batina , colocou os paramentos e ao badalar da meia noite começou a missa que durou como de costume em torno de três horas.
Quando ouviu o último amém, entrou depressa para a sacristia afim de retirar a indumentária e fechar a igreja, pois havia sido convidado para cear na casa do barão. Assim procedeu, saindo a passos largos pela rua do Carmo rumo a Praça da casa de Câmara e Cadeia, onde ficava a residência de seu anfitrião.
Ele não sabia, mas o macaco havia saido de casa e se escondido na sacristia da igreja. Viu o padre retirando a batina e quando pode tratou logo de vestí-la saindo dali e ficando escondido esperando que  as portas fossem fechadas para então seguir o padre.
A rua do Carmo, após o largo é bastante inclinada. Ao subir o morro o padre ouviu uns barulhos estranhos. Por várias vezes parou e olhou sem nada avistar. Continuou andando e no momento em que não ouvia barulhos resolveu olhar para trás. Tamanho foi o seus susto ao ver um vulto branco correndo morro acima na tentativa de alcancá-lo.
Sem exitar correu o máximo que pode até o final da rua, chegando na praça e em segundos  porta    a dentro na sala do barão. Todos ficaram sem entender e ele sem poder explicar devido a falta de fôlego do galope que tomou.
Antes que pudesse contar que tinha visto uma assombração, eis que aparece na janela o macaco com uma batina branca na mão. 

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